Você já imaginou como
seria viajar até a nossa vizinha galáctica, a famosa galáxia de Andrômeda?
Ninguém tem a mais vaga ideia de como transpor esse imenso vazio cósmico. Ainda
assim, graças ao Telescópio Espacial Hubble, podemos até imaginar como seria chegar
lá e estudar suas estrelas individualmente. Combinando nada menos que 411
imagens, astrônomos operando o venerável satélite da Nasa construíram a visão
mais detalhada já obtida dessa incrível galáxia.
Apesar de linda,
talvez a imagem panorâmica acima não faça jus ao projeto. Em sua versão mais
ampla, para ser vista por inteiro, ela precisaria ser disposta em cerca de 600
televisores de alta resolução. São mais de 1,5 bilhão de pixels e mais de 4
gigabytes. Dê uma olhada num único pedacinho dela logo abaixo. (Ou, se você
realmente quiser ficar embasbacado, visite esta
versão com “zoom”.)
Um pequeno recorte da superimagem de Andrômeda. As setas indicam aglomerados estelares. (Crédito: Nasa/ESA) |
No total, o Hubble
conseguiu enxergar individualmente 100 milhões de estrelas. Acima, por exemplo,
as setas indicam dois aglomerados de estrelas — berçários estelares marcados
pela presença de muitas estrelas azuis. Ainda assim, claro, é um percentual
pequeno do total de estrelas a habitar Andrômeda, estimado em 1 trilhão.
Imagem de contexto mostra o recorte de Andrômeda registrado pelo projeto. O retângulo mostra a região da foto de cima; o recorte irregular em volta também foi fotografado como parte do projeto PHAT. (Crédito: Nasa/ESA)
CONTEXTO GALÁCTICO
O resultado, apresentado em 05/01/15 na reunião da Sociedade Astronômica Americana, em Seattle (EUA), nos oferece uma oportunidade única de observar toda a organização que apresenta uma galáxia espiral de um ponto de vista de fora dela, a uma confortável distância de 2,5 milhões de anos-luz de distância. É o contorno de um problema que enfrentamos quando estudamos nossa própria galáxia, a Via Láctea. Como estamos “do lado de dentro”, por assim dizer, é muito mais difícil estudarmos a estrutura do nosso próprio lar galáctico. Sabe como é, o gramado do vizinho pode até não ser mais verde, mas é mais fácil de ver por inteiro.
Andrômeda, ao que tudo indica, é um pouco maior do que a Via Láctea e tem
cerca do dobro da massa. Mas ambas são espirais,
compostas por longos braços de poeira que se estendem da região central da
galáxia como um turbilhão em torno do olho de um furacão. Estudar uma nos ajuda
a compreender a outra, portanto.
O Sol, em torno do
qual a Terra gira, é apenas uma modesta estrela anã amarela residente na
periferia da Via Láctea, a cerca de 30 mil anos-luz do turbulento centro
galáctico. De dentro da Via Láctea, admirando o céu noturno a olho nu,
enxergamos apenas as estrelas mais brilhantes num raio de cerca de 4.000 anos-luz.
Mesmo sem a poluição luminosa das grandes cidades, aquela visão ainda é
modesta demais para compreendermos nossa pequenez.
Olhe, em vez disso,
para Andrômeda, na imagem mais próxima. Escolha um pontinho de luz qualquer. É
uma estrela. Agora observe os arredores. E isso é apenas um pequenino pedaço de
uma galáxia espiral. Agora imagine que o Universo observável tem mais de uma centena
de bilhões de galáxias parecidas com ela e com a nossa. Cada uma delas esse
enxame de pequenos pontos de luz, cada uma uma estrela, a imensa maioria com
sua coleção de planetas. Planetas como o nosso. Esse é o tamanho da nossa
pequenez.
Ainda assim, nos
aventuramos a olhar para cima e desvendar a história do cosmos. Construímos
telescópios e foguetes. Com eles, aprofundamos nosso alcance. A imaginação
humana pode ir a Andrômeda. Pode ir até o fim do Universo, se assim desejar.
Quão pequenos somos, mas quão grandiosos são os nossos sonhos e como é
maravilhosa a história cósmica que a ciência nos revela.
|
Texto sugerido por nosso colaborador Gilberto Farias.
Texto de autoria de Salvador Nogueira para o blog Mensageiro Sideral, da Folha de S. Paulo, em 06/01/2015. Reproduzido parcialmente. Todos os direitos reservados ao autor.
Texto completo: http://goo.gl/opbbA0
Nenhum comentário:
Postar um comentário