Quarto capítulo da série "O Reino das Galáxias"
Domingos Sávio de Lima Soares
24 de outubro de 2007 (publicado originalmente no site do autor)
Par de galáxias ligadas gravitacionalmente.
Elas estão a cerca de 250 milhões de anos-luz de nós. Esta imagem foi
obtida em março de 1991, no Observatório do Pico dos Dias (OPD)
pelo autor do artigo e por seu colega, da Universidade de São Paulo, Ronaldo E. de
Souza. Utilizamos um detector CCD de 0,2 Megapixel. As cores da
imagem são artificiais. O nome de catálogo da galáxia de cima é
ESO-LV5100090. Ela é uma lenticular, tipo morfológico S0. A
galáxia de baixo, ESO-LV51000100, é uma galáxia espiral de tipo Sa.
Este par foi estudado por Paulo Márcio Villaça Veiga em sua dissertação
de mestrado realizada no Departamento de Física da UFMG e defendida
em 1996. Crédito: Domingos Sávio de Lima Soares e Paulo Márcio
Villaça Veiga.
Domingos Sávio de Lima Soares
24 de outubro de 2007 (publicado originalmente no site do autor)
Todos nós ficamos maravilhados com a praticidade, eficiência
e qualidade das fotografias obtidas com as câmeras digitais. Estas
câmeras equipam até mesmo muitos modelos de telefones celulares.
Poucos sabem que esta maravilha tecnológica é uma filha legítima
da Astronomia moderna! O personagem principal das fotos digitais
atende pelas iniciais "CCD", que vêm da expressão em inglês
"Charge-coupled device", ou, "Dispositivo de cargas acopladas".
A evolução proporcionada pelos CCDs iniciou-se em 1970, a princípio
totalmente desvinculada da Astronomia. Pesquisadores dos Laboratórios
Bell, nos Estados Unidos, apresentaram um relatório técnico em que
eles descreviam um novo tipo de dispositivo de memória para
computadores. Logo ficou evidente que o pequeno chip de silício
semicondutor -- o CCD -- possuía também outras qualidades, entre elas,
a de responder a estímulos de luz visível. Ou seja, ele poderia ser
utilizado como o elemento fundamental para a produção de imagens.
Desta maneira, o CCD foi logo incorporado ao acervo dos dispositivos
utilizados por um ramo da ciência especialmente interessado em imagens,
a Astronomia. Não havia interesse de aplicação comercial imediata.
Enquanto as mais sensíveis emulsões fotográficas aproveitam apenas de
2 a 3% da luz que sobre elas incide, os CCDs registram quase toda a luz
incidente. Os astrônomos poderiam observar objetos celestes centenas,
ou mesmo milhares, de vezes mais fracos, com os mesmos telescópios
disponíveis, apenas trocando a câmera fotográfica antiga por uma câmera
digital CCD! Além disto, os CCDs são sensíveis a uma ampla faixa de
comprimentos de onda da luz visível. Em outras palavras, são igualmente
sensíveis a quase todas as cores do espectro da luz visível. Eles
poderiam, portanto, substituir com grande vantagem os filmes
fotográficos em uso.
O CCD é um chip, ou seja, uma pequena pastilha achatada, constituído
de um conjunto de elementos microscópicos de material semicondutor,
o silício, cada um deles capazes de converter a luz incidente em uma
carga elétrica proporcional à intensidade da luz. Este elemento de imagem
é denominado "píxel", termo que é uma corruptela da expressão em inglês
"picture element", que significa "elemento de imagem".
Exemplificando: um CCD típico de 4 milhões de píxeis (4 Megapixel)
mede cerca de 4 cm por 4 cm. O chip é uma pastilha que contém os
4 Megapixel distribuídos numa rede ordenada. É como se fosse uma
plaquinha "riscada" horizontalmente com 2000 linhas e verticalmente
com 2000 colunas. E tudo no espaço de 4x4 centímetros! Devemos
lembrar que cada píxel é um elemento independente de detecçao de
luz, e que eles são interligados um a um para a composição da imagem
que se deseja. As tecnologias envolvidas são as de processamento
eletrônico de dados e de construção de estruturas eletrônicas
microscópicas. Cada píxel mede 20 micra, ou, 2 centésimos de
milímetro! O processamento eletrônico é necessário para a "leitura"
das cargas elétricas de cada píxel e a composição da imagem
correspondente. O fenômeno físico envolvido no processo de
formação da imagem -- a geração das cargas elétricas -- é o "efeito
fotoelétrico".
Já no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, os astrônomos
brasileiros já utilizavam detectores CCDs em seus trabalhos de
observação. O Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), que é um
instituto de pesquisa do governo federal, possuía câmeras CCDs
instaladas em seus telescópios no Observatório do Pico dos Dias,
localizado em Brazópolis, próximo a Itajubá, onde se situa a sede do
LNA. Os CCDs, então, eram muito menores do que os atuais, com
cerca de 0,2 Megapixel, mas possibilitaram a realização de importantes
pesquisas astronômicas.
A história do CCD é mais um exemplo de como a pesquisa em ciência
básica gera produtos tecnológicos de grande utilidade para a sociedade
em geral. As nações desenvolvidas investem bastante em pesquisa
científica básica, pois os resultados deste tipo de pesquisa muitas vezes
resultam em benefícios que vão muito além dos objetivos científicos
que inicialmente a motivaram.
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