Publicado em 16/02/2012 em folha.com/ciência.
SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A adesão do Brasil ao ESO (Observatório Europeu do Sul), o maior complexo astronômico do mundo, deve ser o primeiro grande projeto de expansão da ciência brasileira a sair do papel --isso se o contingenciamento de recursos anunciado na quarta-feira (15) pelo governo federal permitir.
O MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação) acaba de enviar à Casa Civil o termo que define a participação do Brasil no ESO. O documento será apreciado, em seguida, pelo Congresso.
Assinado em dezembro de 2010 entre o então ministro Sergio Rezende e o diretor-geral do ESO, Tim de Zeeuw, o projeto previa um custo para o Brasil de cerca de R$ 555 milhões nos próximos 11 anos.
O objetivo é a construção do E-ELT, o maior telescópio terrestre existente na Terra.
Em 2011, o processo não avançou, deixando apreensiva a comunidade astronômica brasileira, majoritariamente favorável ao projeto (mas não unanimemente; pesquisadores renomados, como João Steiner, da USP, dizem que o custo é alto demais).
O encaminhamento da participação do Brasil no ESO foi o pontapé inicial para tirar do papel projetos milionários de ciência que ficaram parados na pasta de Ciência em 2011.
CARTEIRA VAZIA
A justificativa do governo para a estagnação dos projetos foi o corte de recursos: Aloizio Mercadante, ex-ministro de Ciência, perdeu 23% do orçamento em 2011.
Na quarta-feira (15), o governo anunciou mais um corte. O orçamento de Ciência para 2012 ficou em R$ 5,2 bilhões: 20% menor do que em 2011.
"Todos esses projetos colocam o Brasil em novo patamar de ciência", disse o secretário-executivo da pasta, Luiz Antonio Rodrigues Elias.
De acordo com Elias, a falta de recursos que agora ficou ainda pior será driblada por parcerias privadas e com fundações estaduais.
Além do ESO, também estão em jogo a negociação para a entrada do Brasil no Cern, maior laboratório de física de partículas do mundo, a construção de um novo acelerador de partículas no LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), em Campinas, e um reator multipropósito.
Em entrevista à Folha na sua posse, o novo ministro de Ciência, Marco Antonio Raupp, disse que "os projetos são importantes, mas é preciso priorizá-los". Mas ele não anunciou suas preferências.
O acordo com o ESO foi discutido após a posse de Raupp, em reunião entre ele, Mercadante e Dilma Rousseff para debater a transição na pasta de Ciência. Segundo a Folha apurou, Dilma observou a planilha de gastos dos próximos anos e instruiu que o acordo fosse tocado adiante.
Cerca de 50% do orçamento do novo anel de luz síncrotron e do reator multipropósito do Ipen (Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares) está no PPA (Plano Plurianual), de 2012 a 2015.
Não se sabe, porém, quando e nem se esse dinheiro será liberado. "Mas estar no PPA já é um grande avanço", avalia José Perrota, do Ipen.
Se implementado, o reator suprirá a demanda nacional de radioisótopos, necessários para a produção de fármacos.
"Não somos concorrentes. O reator é tão importante quanto o novo anel", avalia José Roque, do LNLS.
Já a participação do Brasil no Cern ainda está sendo estudada pelo MCTI.
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